Manifesto “Não Fechem as Escolas”

Texto completo em: https://naofechemasescolas.wordpress.com/manifesto/

Junho de 2021 – Estamos no final do segundo ano letivo em tempo de pandemia. Têm sido tempos difíceis e instáveis e é tempo de, com serenidade, pensar de uma forma equilibrada e racional no futuro dos nossos filhos. Os adultos estão ansiosos e dedicados a pensar no imediato e, inadvertidamente, esquecemo-nos de quem vai suportar a fatura dos nossos atos: as crianças e os jovens. E eles nunca poderão ser cobaias, seja de experiências sociais ou farmacêuticas.

Estávamos no final de março de 2020 quando o Conselho Nacional de Saúde (CNS) aconselhou os governantes, como é a sua função, sobre as medidas a adotar quando a pandemia por COVID-19 atingiu Portugal. Uma delas foi o não encerramento das escolas, conselho que o Governo não seguiu. Fomos todos apanhados desprevenidos e a comunidade educativa tentou o seu melhor para adaptar-se a um cenário nunca imaginado, com o ensino à distância e toda a complexidade pedagógica, logística e social que isso envolve.

O CNS nunca mais foi ouvido. A Escola passou a ser um tubo de ensaio de medidas pontuais e, muitas vezes, infundamentadas, onde tentava-se, a todo o custo, controlar a pandemia e mitigar os danos causados pela repentina e profunda transformação na comunidade educativa. Mesmo sabendo-se no início que a idade avançada é um fator primordial na perigosidade da doença, preferiu-se proteger uma população inteira, confinando crianças e jovens em casa.

Vivemos há quase ano e meio com uma nova realidade. É tempo de refletir, de ouvir os nossos filhos e dar voz aos professores e a quem lida no dia-a-dia com o Ensino:

  • O ensino à distância é pedagogicamente fraco para o ensina básico e secundário, principalmente com os mais novos que sentem na monodocência uma ligação afetiva essencial para adquirirem conhecimentos e motivação pela escola;
  • O ensino à distância torna o ensino não universal – há famílias que não têm nem os recursos, nem a literacia tecnológica e nem as condições sociais para lidarem com essa nova realidade, preterindo-se os mais ricos aos mais pobres;
  • A dificuldade na criação de laços sócio afetivos entre os alunos, um pilar fundamental para o desenvolvimento de uma sociedade que se quer coesa e preocupada com o seu semelhante. Em idades em que tudo o que se passa à sua volta é uma descoberta diária, a ausência do toque e da perceção das emoções, tapadas pela máscara, condiciona o desenvolvimento social e a capacidade de interagir em sociedade;
  • As regras aplicadas para confinar pontualmente parte ou a totalidade de uma turma, se não mesmo uma escola inteira, causam assimetrias no acesso ao ensino, onde os alunos envolvidos ficam privados ou com limitações perante os outros. À instabilidade acresce a desmotivação e a ausência de objetivos nos estudos;
  • Os professores têm sofrido uma sobrecarga de trabalho, com a constante replanificação das aulas, a procura de outras ferramentas de ensino, nunca antes testadas, e o aumento da burocracia relacionada com a pandemia (relatórios, autorizações, informações, etc.), que se junta à sobrecarga burocrática que os docentes já antes se queixavam de ter;
  • O detrimento de disciplinas como a Educação Física, com as limitações de utilização de espaços e equipamentos;
  • A ausência de contato dos alunos com o conhecimento prático motivada pela inexistência das visitas de estudo, onde os alunos tinham a oportunidade (e para muitos, única) de experimentarem o mundo real que aprendem na escola;
  • As direções das escolas têm tido uma sobrecarga logística e administrativa enorme devido às permanentes alterações e condicionamentos, provocando a inevitável instabilidade em todo o processo educativo;
  • Os pais, principalmente os mais carenciados e de famílias numerosas, têm sentido dificuldades na conciliação da presença dos filhos em casa, e das sequentes novas necessidades de aprendizagem em casa, com o seu trabalho e uma instabilidade de emprego crescente.
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