A corte dos animais por baixo a cozinha por cima

A corte dos animais por baixo a cozinha por cima

Antes da invenção do gás de garrafa, e do aquecimento, construía-se as casas rurais com a corte/curral dos animais no rés-do-chão e os aposentos por cima. O calor da fermentação do estrume das vacas, cabras e porcos aquecia a casa por cima, poupando muitas horas a arrumar lenha. Os porcos tinham um lugar muito especial, pois viviam quase sempre debaixo da cozinha. A sua pia tinha sempre uma caleira directa da cozinha. Todos os restos da cozinha eram lançados directamente para baixo e iam alimentar o bicho.

Mal a família entrava na cozinha era o festim por baixo. O bicho sempre mais familiar com a fome – também a do dono – despertava ao menor sinal de movimento e esperava aos guinchos junto da caleira pela ansiada casca de batata.

Hoje há poucas aldeias, porcos – de 4 patas – há menos, nenhum vive por debaixo da cozinha.

Mas a caleira e os guinchos de fome ouvem-se nas cidades. A cada nova variante e mutação da variante, a cada nova subida de Rt, levantam- se os bichos nas redações, ansiosos por uma casca de batata lançada na caleira, da cozinha de São Bento.  A cada movimento da faca no vegetal da catástrofe, do horror, guincham desesperados de fome na pia, ansiosos que o orçamento lhes dê mais 30 milhões, que a fome tomou conta da redação. O esterco dos animais no papel e na internet, aquece os pés ao poder, que passa as leis que lhe convém, que suspende contratação pública e dá os contratos todos aos amigos diretamente. Dorme com pés quentes de saber que ninguém investiga, ninguém critica, só tem de viver com os grunhidos dos animais quando vão à cozinha.

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