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Dados do Japão

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(Texto de Marta Yamahata, que vivendo no Japão e falando Japonês tem acesso a um mundo de racionalidade pouco visto no ocidente)
Voltando à base: reparem nisto que os observatórios nacionais da infecção no Japão nos estão a dizer:
22% de infecção em CASA,
9% no Trabalho,
5% na Restauração,
4% nos Hospitais,
60% Vários.
Claro que o contexto é diferente em Portugal, mas isto é uma referência importantíssima porque os japoneses fazem aquilo que aí não se faz: observar, medir e publicar sistematicamente, para além de todo o contact tracing que praticam e sempre praticaram.
Reparem ainda que, também segundo os observatórios japoneses (case study: Prefeitura de Shiga), a maior parte das infecções ocorre COM máscara, ou seja, a máscara até poderá ter algum efeito, mas ele não é relevante em termos globais epidemológicos (basta comparar o antes e o depois nos sítios onde se implementou a máscara a meio do campeonato, nomeadamente na Europa). Os dados da infecção mesmo com máscara mostram como andamos todos preocupados com a infecção aérea e a esquecer a INFECÇÃO PELO TOQUE (superfícies), foi aliás este tipo de infecção que esteve recentemente na base da infecção conjunta de 30 condutores de comboios da linha de Metro Oedo, em Tóquio, onde se PROVOU que a fonte de infecção foi… Torneiras!
Na Ásia, sabe-se historicamente que mais do que a Influenza, a família dos Coronavirus se disseminam pelo toque (case study: SARS num Hotel: a infecção propagou-se não pelos infectados, aereamente, directamente, mas pelos funcionários da limpeza, nos próprios quartos, através de lençóis, panos de limpeza, etc.
Portanto, não podemos é relaxar com os cuidados primários relativos às mãos e às superfícies, e não podemos relaxar nos espaços públicos mas sobretudo EM CASA (porque os públicos estão a ser muito cuidados, anda tudo a ser desinfectado), sobretudo agora com os novos confinamentos!
Perante estes dados, a questão de saber onde andamos com as mãos e que cuidados temos com elas parece-me ser muito mais importante do que fechar escolas ou restaurantes, porque simplesmente os focos de contágio NÃO estão nesses locais, pelo menos de uma forma relevante.
A percepção que temos da coisa nem sempre equivale aos dados epidemológicos, e nesses dados os japoneses são incríveis, só é pena os meios de comunicação aqui também não lhes darem a devida atenção…
No caso de Portugal, há agora o enorme excesso de mortalidade por outras razões, e a este respeito não são só os mais velhos a morrer… As urgências não estão na realidade pior que outros anos, nesta mesma altura (as comparações estatísticas em saúde assim o dizem), mas está a morrer-se mais, provavelmente em casa e nos lares, mas sem dúvida em íntima relação com a VAGA DE FRIO (é preciso cuidar das condições de aquecimento dos edifícios!) e os CUIDADOS HOSPITALARES gradualmente negligenciados desde o início da pandemia relativamente a outras doenças que não a Covid (para não falar das medidas contraproducente em relação à Covid que concentram pessoas em espaços públicos, como o “recolher obrigatório” em vigor desde ANTES do Natal).
Confiscar Hospitais Privados poderá ter de ser feito, mas também mais medidas nos Lares, e depois mais cuidados em Casa.
Onde estamos a relaxar? É para aí que devemos olhar, com os dados objectivos sobre os locais de contágio.
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